"Não é bom o homem
estar só, farei para ele uma companheira”
Gênesis, 2:18
Gênesis, 2:18
A Torá nos ensina que os
casamentos são "combinados" nos Céus. Diz o Talmud (no tratado Sotá
2a): "Quarenta dias antes da concepção é decretado nos Céus que a filha
desta pessoa está prometida ao filho daquela outra".
Segundo o Zohar, o casamento é a união de duas metades de almas
que foram colocadas em corpos separados quando a alma desceu à terra. Nos
planos Divinos essas "almas gêmeas"
vão ser reunidas através do casamento. Mas não podemos esquecer-nos do livre
arbítrio. Por isso, apesar de D’us estarem envolvido na predestinação de cada
par, a decisão final cabe ao indivíduo, já que cada um de nós pode interferir
em seu próprio destino.
O próprio Todo-Poderoso, ao criar o homem, percebeu a
necessidade de este ter um companheiro fiel que o acompanhasse ao longo da
vida. "E disse o Eterno: "Não é
bom que o homem esteja só" ( Gênese 2:18). E D’us criou Eva a partir
da costela de Adão, assim ordenando: "E
é por isso que o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher, e
eles serão uma só carne" (Gênese 2:24).
Nossos sábios ensinam que Adão estava só porque não havia alguém
a quem ele pudesse se "dar".
Com a criação de Eva, as coisas mudaram. Alguém precisava dele e de seu amor,
assim como ele precisava do dela. A palavra hebraica para amor - ahavá
- vem da raiz hav, que significa dar, o que já indica quão importante é saber
"doar-se" ao "bechirat
libó", o eleito de seu coração.
O casamento não é uma instituição criada pelos homens, mas sim
um mandamento divino. O homem e a mulher foram criados como uma entidade única,
por isso seu estado natural é a união e, ao se unirem, realizam plenamente
"a imagem de D’us". A Torá
afirma: "D’us criou o homem à sua
imagem. Na imagem de D’us, Ele os criou, homem e mulher. Ele os criou e os
abençoou e lhes disse: "Sejam fecundos, multipliquem-se" (Gênese
1:27).
Em uma primeira análise, o Shir Hashirim, Cântico dos Cânticos,
um dos mais belos livros da Bíblia, de autoria do rei Salomão, parece ser uma
canção de amor entre um homem e uma mulher. Nossos sábios ensinam que, ao ser
analisada mais cuidadosamente, a obra pode ser considerada uma alegoria do amor
entre D’us e o povo de Israel. O fato de o rei Salomão ter utilizado o amor
entre homem e mulher como alegoria mostra o quão poderoso e sagrado deve ser o
amor – pois sagrada e indissolúvel é a união entre D´us e Israel.
A união e o amor entre os cônjuges são descritos com insistência
nas biografias dos patriarcas (Abrahão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacó e Lea e,
mais tarde, Jacó e Raquel. Estes dois últimos vivem uma das mais bonitas
histórias de amor em toda a literatura, uma relação repleta de devoção e ternura.
Com Isaac e Rebeca o texto bíblico relata o primeiro casamento
conhecido na história da humanidade. Descreve Rebeca entrando na tenda de Sara,
a falecida mãe de seu futuro marido. O Midrash indica que os milagres que
se realizavam através de Sara e que haviam cessado com a sua morte, reaparecem
através de Rebeca.
O matrimônio
O matrimônio recebe o nome hebraico de kidushin (consagração, santificação ou dedicação),
pois o casamento é uma ocasião sagrada no judaísmo. É um mandamento divino, a
criação de um laço sagrado. O casamento entre dois judeus é visto como o início
de uma nova vida para ambos. O casal passa a ter uma relação exclusiva, e isto
implica em uma dedicação total entre o noivo e a noiva para que possam
tornar-se o que a Khabbalah descreve como "uma única alma em dois corpos diferentes".
Histórico
O primeiro mandamento dado por D-us ao homem é o de se casar.
Como Adão ainda não tinha uma religião definida, entendemos que
isto se estende a todos os povos, raças e religiões.
Para os judeus, este é o primeiro dos 613 mandamentos da Torá
(Bíblia) dos judeus.
A palavra Torá quer dizer "orientação" e
consistem nos cinco livros que Moisés recebeu de D-us no Monte Sinai no ano
2448 desde a criação do mundo. Estamos em 5671.
Para os que não são
judeus, este mandamento está incluído nos Sete Mandamentos dos
Filhos de Noé, no que refere a manter relações sexuais permitidas pela Torá.
Um forte motivo de D-us ter feito do casamento um mandamento (e não uma opção), se deve ao fato do
homem ser extremamente ligado aos seus sonhos e conquistas e em muitos casos
não deixar espaço para um ente feminino compartir o seu mundo.
Naturalmente, todos procuram um companheiro/a para amenizar sua
jornada na vida.
Mas daí até se comprometer a compartir uma vida a dois, a
estrada é longa.
Nossos rabinos ensinam como deve ser trilhada esta estrada para
obtermos êxito:
A primeira história de um encontro com fins matrimoniais é a do
patriarca Isaque:
Seu pai, Abraão, envia o
servo Eliezer para buscar uma esposa em sua terra natal, onde as moças tinham valores
culturais semelhantes aos
do filho.
Eliezer reza para D-us os ajudar nesta empreitada e faz um sinal
para si próprio:
A moça que oferecer água para ele e também para seus
camelos será a escolhida.
Quando Eliezer chega a seu destino, Rebeca está junto ao poço e
age desta maneira. Sem dúvida, esta moça tem os valores morais que buscava e é
boa para Isaque
Então Eliezer entra na tenda de Labão, pai de Rebeca e pede sua
mão.
Labão consulta Rebeca e esta concorda em unir-se a Isaque em
matrimônio.
Deste episódio nossos rabinos tiram importantes lições:
1.
O casamento é uma decisão importante e deve ser feita
cautelosamente
2.
Os noivos devem ter o maior número possível de valores em comum.
3.
Devem ter as mesmas metas, mas não necessariamente o mesmo
caráter.
4.
Sempre é bom ter uma opinião objetiva como a dos pais ou
casamenteiros.
5.
É bom olhar mais se os valores e não as feições da pessoa
coadunam conosco.
O amor é algo que será
construído dentro do esquema do casamento, passo a passo, conforme
os noivos vão se dando um ao outro e não é uma premissa básica para se casar,
embora o Talmude (ensinamentos e legislação rabínicos)
ensine que tem de haver uma atração física básica, embora não essencial.
É imprescindível que os noivos estejam de acordo com o
matrimonio e que este não lhes seja imposto por interesse, pressão da família
ou social.
Os noivos entendem que o casamento é apenas um começo e não o
resultado de um clímax de paixão. Na Torá, Rebeca salvou a vida e conseguiu os
direitos de progenitura para seu filho Jacob, que havia sido enganado pelo
irmão gêmeo (fraterno) Esaú, tão somente por conhecer mui intimamente a
natureza de Isaque, que acabou concordando com a atitude da esposa.
As histórias de casamentos são abundantes na Torá e cada uma
delas abriga dentro de si importantes lições para todas as gerações.
Costumes
A maioria dos judeus nos dias de hoje são descendentes das
tribos de Israel que sobreviveram à destruição do segundo Templo em Jerusalém e
hoje são Ashkenazim (da Europa do Leste e Central) ou Sefaradim
(Espanha, Norte da África e Países Árabes). Um terceiro grupo veio do Yemen e
hoje vivem quase todos em Israel.
Conquanto a legislação judaica já fosse delineada pelo Talmud há
mais de quinze séculos e é idêntica para todos os judeus, podem existir algumas
variações entre estes grupos no tocante à comida, ordem de entrada das famílias
na cerimônia e outros detalhes, mas todos obedecem este marcos primordial:
A Huppah (pronunciamos
RRupá ou Jupá em Espanhol)
Os noivos se reúnem sob um toldo, geralmente de pano, que
representa o novo lar. Na maior parte dos casos se faz a Chupá ao ar livre,
para ter apenas o Céu (D-us) acima das cabeças dos noivos como se Ele os
estivesse abençoando diretamente. O noivo cobre a cabeça com uma Kipá (solidéu) ou Chapéu
enquanto a noiva tem seu rosto coberto por um véu, para que sua tez seja vista
pela primeira vez após a cerimônia pelo seu marido. Seguindo um costume do
Talmud, ambos costumam jejuar no dia da boda pedindo a D-us que perdoe seus
pecados e abra uma ficha nova para eles no Céu.
Sob a Huppah o rabino oficia o casamento lendo a Ketubá
para os noivos.
A Ketubá é um documento escrito em Aramaico num pergaminho, onde constam as obrigações do noivo para com
a noiva, tais como lhe prover moradia, alimentação, vestimenta, presentes e
carinho. A noiva tem direito a uma indenização no caso de divórcio, que foi
instituído por D-us na Torá e é oficiado por Cortes Rabínicas.
Duas testemunhas devem comparecer à Huppah para atestarem o que foi lido na
Ketubá e para identificarem a noiva. Já aconteceu as noivas serem trocadas
(Raquel por Léa, no casamento do patriarca Jacob), daí o costume.
Os casamentos estritamente dentro das normas da Torá requerem
que as testemunhas sejam judeus observantes.
O noivo coloca um anel no dedo do meio da mão da noiva
e assim sela o compromisso.
É daí que vem o costume de "pedir a mão em casamento" - para colocar o anel.
O rabino dá início então as Sete bênçãos, pronunciadas sobre um cálice
de vinho casher (com
supervisão rabínica), onde D-us
desata a proibição de união sexual existente fora do casamento e permite os
noivos um à outra.
Após as bênçãos, é costume judaico o noivo quebrar um copo de vidro
com o pé para simbolizar a tristeza que sentimos pelo fato de Jerusalém
ter sido destruído e causado tanto sofrimento aos judeus durante a diáspora e
mesmo hoje quando Israel se constrói.
Logo após, todos,
emocionados proclamam o Mazel Tov (Boa sorte! Felicidades!) e começa a
festa com muita alegria, música e boa comida.
É costume judaico convidar estranhos ao casamento principalmente
os pobres.
A filha de rabi Akiva, um grande rabino de Israel, teve sua vida
salva porque convidou um pobre a comer no dia do seu casamento e deu a ele seu
próprio prato de comida.
Ao chegar a casa com seu marido, a noiva estancou seu pente na
parede. No dia seguinte acordou e viu uma cobra venenosa morta, espetada no
pente. Seu pai lhe disse que isto foi um milagre de D-u por ela ter dedicado
tanta atenção a um pobre.
Legislação
Esta é a parte mais complicada e envolve textos rabínicos
complexos e profundos, pois descreve uma infinidade de casos e o que fazer quando
houve um engano.
Por isto vamos nos deter somente na legislação básica, como está
no Torá:
Todo filho e filha de mães judia podem se casar entre si desde
que não sejam irmãos, pai e filha, mãe e filho e inúmeros casos parecidos
citados em Levítico 17, 18 e 19.
Alguns judeus e judias não podem se casar entre si: os Cohen (descendentes dos sacerdotes do templo) não podem se casar com
mulheres divorciadas.
Um convertido /a pode se casar com um judeu /ia se sua conversão
for sancionada por um Beit Din (Corte Rabínica) de três juízes e se o
casamento não motivou a conversão.
O Estado de Israel moderno rege sua legislação matrimonial
baseado na Torá.
A cerimônia
Todo e qualquer casamento é muito mais do que uma cerimônia é um
compromisso.
Os noivos, ao aceitarem um ao outro, assumem que estão juntos
para sempre, que lutarão para fazer este casamento durar e dar certo.
Não é diferente num casamento judeu.
O casamento judeu tem três etapas: Ketubah, que é o contrato
de casamento e que devem ser assinadas pelo noivo e mais duas testemunhas antes
da chegada da noiva; Huppah, que representa a casa dos
noivos, no formato de uma tenda sob a qual acontece o ritual; Chassns´s
Tisch, uma mesa especial onde se serve bebidas e comidas depois das
bênçãos matrimoniais do Rabino.
Na presença de dez testemunhas masculinas, o vinho e o anel são
abençoados e o casal bebe a primeira taça de vinho. Haverá então a troca de
anéis e antes da festa começar há de se cumprir outros rituais.
A cerimônia do casamento varia de comunidade a comunidade e está
cercada de centenas de costumes diferentes. Mas a essência permanece constante
e praticamente sem mudanças por vários séculos. Há certos costumes que são
encontrados entre os ashkenazim, outros entre os sefaradim e outros, ainda,
encontrados entre todos os judeus de antecedentes tradicionais.
Entre os judeus não existe separação entre a lei e a religião,
sendo assim, a cerimônia de casamento
é um ato legal que acontece num ambiente religioso, e é considerado um contrato.
Embora a cerimônia gire em torno da doação de um anel, feita
pelo noivo à noiva, significando uma compensação monetária real e pela leitura
de um contrato de casamento com força de união legal, ainda assim é chamada de kiddushin que significa santificação, onde noivo e noiva se
santificam mutuamente, são santificados ao povo judaico e por D´Us, e com sua
união farão esse povo crescer.
O casamento começa com a noiva e o noivo sendo levados por seus
pais para baixo do Huppah. Uma vez embaixo do Huppah, a noiva caminha três,
quatro ou sete vezes em torno do noivo, dependendo do costume local.
Depois disso, o rabino recita um fragmento do Salmo 118 e uma
curta benção. O rabino pronuncia um breve sermão dirigido aos noivos. Segue-se
a benção do primeiro dos dois copos de vinho que devem ser bebidos durante a
cerimônia. Noivo e noiva bebem do mesmo copo.
O noivo então, pago à noiva um preço de aquisição, representado
pelo anel, que é colocado no dedo indicador da mão direita da noiva. Isso
porque o anel não é simplesmente um adorno, mas tem o sentido de uma
compensação monetária. Ao aceitar o anel, a noiva consente com a transação.
Na Ketubah há a menção de uma quantia em dinheiro, que é
mencionada diante das testemunhas e serve para, no caso de divórcio, o marido se
comprometer a dar a esposa tudo o que lhe é de direito.
O rabino, então, recita a promessa de casamento e o noivo a
repete. O casamento é na realidade efetuado pelo noivo que adquire a noiva na
presença de duas testemunhas que assinam o contrato de matrimonio.
A segunda parte da cerimônia é a leitura do contrato, chamado de
Ketubah, onde estão estabelecidas as obrigações do marido para com a esposa, e
afirmando claramente que ele viverá com ela uma relação conjugal. É um
documento legal e obrigatório e vale até que morte os separe ou que o divórcio
termine o matrimonio.
A seguir o segundo copo de vinho é abençoado, e os dois bebem. A
benção do segundo copo é a primeira das sete bênçãos do casamento, seguida por
mais seis. Após as sete bênçãos, outro copo é colocado no chão e o noivo o
quebra pisando nele.
É proferida a benção dos sacerdotes ou birchat cohanim e os
presentes permanecem no local da cerimônia até que os noivos tenham saído.
P.S: Agradecimentos às
pessoas judias consultadas, que ajudaram na preparação desse texto.
Mazel Tov Shalom
Khaleb Bueno