sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CERIMONIA JUDAICA

"Não é bom o homem estar só, farei para ele uma companheira”
Gênesis, 2:18

A Torá nos ensina que os casamentos são "combinados" nos Céus. Diz o Talmud (no tratado Sotá 2a): "Quarenta dias antes da concepção é decretado nos Céus que a filha desta pessoa está prometida ao filho daquela outra".
Segundo o Zohar, o casamento é a união de duas metades de almas que foram colocadas em corpos separados quando a alma desceu à terra. Nos planos Divinos essas "almas gêmeas" vão ser reunidas através do casamento. Mas não podemos esquecer-nos do livre arbítrio. Por isso, apesar de D’us estarem envolvido na predestinação de cada par, a decisão final cabe ao indivíduo, já que cada um de nós pode interferir em seu próprio destino.
O próprio Todo-Poderoso, ao criar o homem, percebeu a necessidade de este ter um companheiro fiel que o acompanhasse ao longo da vida. "E disse o Eterno: "Não é bom que o homem esteja só" ( Gênese 2:18). E D’us criou Eva a partir da costela de Adão, assim ordenando: "E é por isso que o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne" (Gênese 2:24).
Nossos sábios ensinam que Adão estava só porque não havia alguém a quem ele pudesse se "dar". Com a criação de Eva, as coisas mudaram. Alguém precisava dele e de seu amor, assim como ele precisava do dela. A palavra hebraica para amor - ahavá - vem da raiz hav, que significa dar, o que já indica quão importante é saber "doar-se" ao "bechirat libó", o eleito de seu coração.
O casamento não é uma instituição criada pelos homens, mas sim um mandamento divino. O homem e a mulher foram criados como uma entidade única, por isso seu estado natural é a união e, ao se unirem, realizam plenamente "a imagem de D’us". A Torá afirma: "D’us criou o homem à sua imagem. Na imagem de D’us, Ele os criou, homem e mulher. Ele os criou e os abençoou e lhes disse: "Sejam fecundos, multipliquem-se" (Gênese 1:27).
Em uma primeira análise, o Shir Hashirim, Cântico dos Cânticos, um dos mais belos livros da Bíblia, de autoria do rei Salomão, parece ser uma canção de amor entre um homem e uma mulher. Nossos sábios ensinam que, ao ser analisada mais cuidadosamente, a obra pode ser considerada uma alegoria do amor entre D’us e o povo de Israel. O fato de o rei Salomão ter utilizado o amor entre homem e mulher como alegoria mostra o quão poderoso e sagrado deve ser o amor – pois sagrada e indissolúvel é a união entre D´us e Israel.
A união e o amor entre os cônjuges são descritos com insistência nas biografias dos patriarcas (Abrahão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacó e Lea e, mais tarde, Jacó e Raquel. Estes dois últimos vivem uma das mais bonitas histórias de amor em toda a literatura, uma relação repleta de devoção e ternura.
Com Isaac e Rebeca o texto bíblico relata o primeiro casamento conhecido na história da humanidade. Descreve Rebeca entrando na tenda de Sara, a falecida mãe de seu futuro marido. O Midrash indica que os milagres que se realizavam através de Sara e que haviam cessado com a sua morte, reaparecem através de Rebeca.

O matrimônio

O matrimônio recebe o nome hebraico de kidushin (consagração, santificação ou dedicação), pois o casamento é uma ocasião sagrada no judaísmo. É um mandamento divino, a criação de um laço sagrado. O casamento entre dois judeus é visto como o início de uma nova vida para ambos. O casal passa a ter uma relação exclusiva, e isto implica em uma dedicação total entre o noivo e a noiva para que possam tornar-se o que a Khabbalah descreve como "uma única alma em dois corpos diferentes".

Histórico

O primeiro mandamento dado por D-us ao homem é o de se casar.
Como Adão ainda não tinha uma religião definida, entendemos que isto se estende a todos os povos, raças e religiões.
Para os judeus, este é o primeiro dos 613 mandamentos da Torá (Bíblia) dos judeus.
A palavra Torá quer dizer "orientação" e consistem nos cinco livros que Moisés recebeu de D-us no Monte Sinai no ano 2448 desde a criação do mundo. Estamos em 5671.
Para os que não são judeus, este mandamento está incluído nos Sete Mandamentos dos Filhos de Noé, no que refere a manter relações sexuais permitidas pela Torá.
Um forte motivo de D-us ter feito do casamento um mandamento (e não uma opção), se deve ao fato do homem ser extremamente ligado aos seus sonhos e conquistas e em muitos casos não deixar espaço para um ente feminino compartir o seu mundo.
Naturalmente, todos procuram um companheiro/a para amenizar sua jornada na vida.
Mas daí até se comprometer a compartir uma vida a dois, a estrada é longa.
Nossos rabinos ensinam como deve ser trilhada esta estrada para obtermos êxito:
A primeira história de um encontro com fins matrimoniais é a do patriarca Isaque:
Seu pai, Abraão, envia o servo Eliezer para buscar uma esposa em sua terra natal, onde as moças tinham valores culturais semelhantes aos do filho.
Eliezer reza para D-us os ajudar nesta empreitada e faz um sinal para si próprio:
A moça que oferecer água para ele e também para seus camelos será a escolhida.
Quando Eliezer chega a seu destino, Rebeca está junto ao poço e age desta maneira. Sem dúvida, esta moça tem os valores morais que buscava e é boa para Isaque
Então Eliezer entra na tenda de Labão, pai de Rebeca e pede sua mão.
Labão consulta Rebeca e esta concorda em unir-se a Isaque em matrimônio.
Deste episódio nossos rabinos tiram importantes lições:
1.    O casamento é uma decisão importante e deve ser feita cautelosamente
2.    Os noivos devem ter o maior número possível de valores em comum.
3.    Devem ter as mesmas metas, mas não necessariamente o mesmo caráter.
4.    Sempre é bom ter uma opinião objetiva como a dos pais ou casamenteiros.
5.    É bom olhar mais se os valores e não as feições da pessoa coadunam conosco.
O amor é algo que será construído dentro do esquema do casamento, passo a passo, conforme os noivos vão se dando um ao outro e não é uma premissa básica para se casar, embora o Talmude (ensinamentos e legislação rabínicos) ensine que tem de haver uma atração física básica, embora não essencial.
É imprescindível que os noivos estejam de acordo com o matrimonio e que este não lhes seja imposto por interesse, pressão da família ou social.
Os noivos entendem que o casamento é apenas um começo e não o resultado de um clímax de paixão. Na Torá, Rebeca salvou a vida e conseguiu os direitos de progenitura para seu filho Jacob, que havia sido enganado pelo irmão gêmeo (fraterno) Esaú, tão somente por conhecer mui intimamente a natureza de Isaque, que acabou concordando com a atitude da esposa.
As histórias de casamentos são abundantes na Torá e cada uma delas abriga dentro de si importantes lições para todas as gerações.

Costumes

A maioria dos judeus nos dias de hoje são descendentes das tribos de Israel que sobreviveram à destruição do segundo Templo em Jerusalém e hoje são Ashkenazim (da Europa do Leste e Central) ou Sefaradim (Espanha, Norte da África e Países Árabes). Um terceiro grupo veio do Yemen e hoje vivem quase todos em Israel.
Conquanto a legislação judaica já fosse delineada pelo Talmud há mais de quinze séculos e é idêntica para todos os judeus, podem existir algumas variações entre estes grupos no tocante à comida, ordem de entrada das famílias na cerimônia e outros detalhes, mas todos obedecem este marcos primordial:
A Huppah (pronunciamos RRupá ou Jupá em Espanhol)
Os noivos se reúnem sob um toldo, geralmente de pano, que representa o novo lar. Na maior parte dos casos se faz a Chupá ao ar livre, para ter apenas o Céu (D-us) acima das cabeças dos noivos como se Ele os estivesse abençoando diretamente. O noivo cobre a cabeça com uma Kipá (solidéu) ou Chapéu enquanto a noiva tem seu rosto coberto por um véu, para que sua tez seja vista pela primeira vez após a cerimônia pelo seu marido. Seguindo um costume do Talmud, ambos costumam jejuar no dia da boda pedindo a D-us que perdoe seus pecados e abra uma ficha nova para eles no Céu.
Sob a Huppah o rabino oficia o casamento lendo a Ketubá para os noivos.
A Ketubá é um documento escrito em Aramaico num pergaminho, onde constam as obrigações do noivo para com a noiva, tais como lhe prover moradia, alimentação, vestimenta, presentes e carinho. A noiva tem direito a uma indenização no caso de divórcio, que foi instituído por D-us na Torá e é oficiado por Cortes Rabínicas.
Duas testemunhas devem comparecer à Huppah para atestarem o que foi lido na Ketubá e para identificarem a noiva. Já aconteceu as noivas serem trocadas (Raquel por Léa, no casamento do patriarca Jacob), daí o costume.
Os casamentos estritamente dentro das normas da Torá requerem que as testemunhas sejam judeus observantes.
O noivo coloca um anel no dedo do meio da mão da noiva e assim sela o compromisso.
É daí que vem o costume de "pedir a mão em casamento" - para colocar o anel.
O rabino dá início então as Sete bênçãos, pronunciadas sobre um cálice de vinho casher (com supervisão rabínica), onde D-us desata a proibição de união sexual existente fora do casamento e permite os noivos um à outra.
Após as bênçãos, é costume judaico o noivo quebrar um copo de vidro com o pé para simbolizar a tristeza que sentimos pelo fato de Jerusalém ter sido destruído e causado tanto sofrimento aos judeus durante a diáspora e mesmo hoje quando Israel se constrói.
Logo após, todos, emocionados proclamam o Mazel Tov (Boa sorte! Felicidades!) e começa a festa com muita alegria, música e boa comida.
É costume judaico convidar estranhos ao casamento principalmente os pobres.
A filha de rabi Akiva, um grande rabino de Israel, teve sua vida salva porque convidou um pobre a comer no dia do seu casamento e deu a ele seu próprio prato de comida.
Ao chegar a casa com seu marido, a noiva estancou seu pente na parede. No dia seguinte acordou e viu uma cobra venenosa morta, espetada no pente. Seu pai lhe disse que isto foi um milagre de D-u por ela ter dedicado tanta atenção a um pobre.

Legislação

Esta é a parte mais complicada e envolve textos rabínicos complexos e profundos, pois descreve uma infinidade de casos e o que fazer quando houve um engano.
Por isto vamos nos deter somente na legislação básica, como está no Torá:
Todo filho e filha de mães judia podem se casar entre si desde que não sejam irmãos, pai e filha, mãe e filho e inúmeros casos parecidos citados em Levítico 17, 18 e 19.
Alguns judeus e judias não podem se casar entre si: os Cohen (descendentes dos sacerdotes do templo) não podem se casar com mulheres divorciadas.
Um convertido /a pode se casar com um judeu /ia se sua conversão for sancionada por um Beit Din (Corte Rabínica) de três juízes e se o casamento não motivou a conversão.
O Estado de Israel moderno rege sua legislação matrimonial baseado na Torá.

A cerimônia

Todo e qualquer casamento é muito mais do que uma cerimônia é um compromisso.
Os noivos, ao aceitarem um ao outro, assumem que estão juntos para sempre, que lutarão para fazer este casamento durar e dar certo.
Não é diferente num casamento judeu.
O casamento judeu tem três etapas: Ketubah, que é o contrato de casamento e que devem ser assinadas pelo noivo e mais duas testemunhas antes da chegada da noiva; Huppah, que representa a casa dos noivos, no formato de uma tenda sob a qual acontece o ritual; Chassns´s Tisch, uma mesa especial onde se serve bebidas e comidas depois das bênçãos matrimoniais do Rabino.
Na presença de dez testemunhas masculinas, o vinho e o anel são abençoados e o casal bebe a primeira taça de vinho. Haverá então a troca de anéis e antes da festa começar há de se cumprir outros rituais.
A cerimônia do casamento varia de comunidade a comunidade e está cercada de centenas de costumes diferentes. Mas a essência permanece constante e praticamente sem mudanças por vários séculos. Há certos costumes que são encontrados entre os ashkenazim, outros entre os sefaradim e outros, ainda, encontrados entre todos os judeus de antecedentes tradicionais.
Entre os judeus não existe separação entre a lei e a religião, sendo assim, a cerimônia de casamento é um ato legal que acontece num ambiente religioso, e é considerado um contrato.
Embora a cerimônia gire em torno da doação de um anel, feita pelo noivo à noiva, significando uma compensação monetária real e pela leitura de um contrato de casamento com força de união legal, ainda assim é chamada de kiddushin que significa santificação, onde noivo e noiva se santificam mutuamente, são santificados ao povo judaico e por D´Us, e com sua união farão esse povo crescer.
O casamento começa com a noiva e o noivo sendo levados por seus pais para baixo do Huppah. Uma vez embaixo do Huppah, a noiva caminha três, quatro ou sete vezes em torno do noivo, dependendo do costume local.
Depois disso, o rabino recita um fragmento do Salmo 118 e uma curta benção. O rabino pronuncia um breve sermão dirigido aos noivos. Segue-se a benção do primeiro dos dois copos de vinho que devem ser bebidos durante a cerimônia. Noivo e noiva bebem do mesmo copo.
O noivo então, pago à noiva um preço de aquisição, representado pelo anel, que é colocado no dedo indicador da mão direita da noiva. Isso porque o anel não é simplesmente um adorno, mas tem o sentido de uma compensação monetária. Ao aceitar o anel, a noiva consente com a transação.
Na Ketubah há a menção de uma quantia em dinheiro, que é mencionada diante das testemunhas e serve para, no caso de divórcio, o marido se comprometer a dar a esposa tudo o que lhe é de direito.
O rabino, então, recita a promessa de casamento e o noivo a repete. O casamento é na realidade efetuado pelo noivo que adquire a noiva na presença de duas testemunhas que assinam o contrato de matrimonio.
A segunda parte da cerimônia é a leitura do contrato, chamado de Ketubah, onde estão estabelecidas as obrigações do marido para com a esposa, e afirmando claramente que ele viverá com ela uma relação conjugal. É um documento legal e obrigatório e vale até que morte os separe ou que o divórcio termine o matrimonio.
A seguir o segundo copo de vinho é abençoado, e os dois bebem. A benção do segundo copo é a primeira das sete bênçãos do casamento, seguida por mais seis. Após as sete bênçãos, outro copo é colocado no chão e o noivo o quebra pisando nele.
É proferida a benção dos sacerdotes ou birchat cohanim e os presentes permanecem no local da cerimônia até que os noivos tenham saído.
P.S: Agradecimentos às pessoas judias consultadas, que ajudaram na preparação desse texto.

Mazel Tov Shalom

Khaleb Bueno

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